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O vestido encharcado aderente ao corpo sublinhava-se as formas, deixando-as como nua. A natureza em fúria fazia-a sair de si própria. um relâmpago azulado rasgou as nuvens, seguido quase de imediato pelo trovão que abalou o solo. Léa gritou. iluminava-lhe o rosto um contentamento primitivo, rosto sobre o qual, come se fossem lágrimas, escorriam gotas de chuva. Assaltou-a um riso brutal e libertador, que fez coro com o ribombo do trovão. E seu riso logo se transformou em grito, um grito de triunfo e de pura alegria de viver. Deixou-se então cair na terra do caminho, transformado em lodaçal pela chuva. Os lábios tocaram a lama ainda tépida de sol e mergulharam na pasta amolecida. A língua lambeu o barro, cujo sabor dir-se-ia conter todos os eflugos de Montillac. Nesse instante, Léa desejou que o chão abrisse, tornando a fechar-se sobre o seu corpo, digerindo-o, absorvendo-o, fazendo sua carne reviver nas vinhas, nas flores, nas árvores da terra que amava. Depois rolou sobre si mesma, oferecendo o rosto manchado à torrente caída das alturas.
A bicicleta azul, Régine Deforges
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